O Feminino: Jesus X Paulo

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Desde o início dos Tempos a mulher, na Bíblia, já principia sendo bombardeada pela Queda do Homem quando Eva induz Adão a comer o fruto proibido da Árvore da Vida, introduzindo, assim, o pecado na humanidade e tornando-os, e nos, mortais. A partir deste episódio, criaram-se regras para ocultar o poder fascinante e sedutor natural da mulher, para que ela não tivesse direitos e não engodasse e/ou manipulasse o homem, induzindo-o ao pecado “novamente”, como, obviamente, havia feito com Adão. A mulher devia causar um medo e risco muito grande para ter sido silenciada de uma maneira tão opressora.

A Queda do Homem, o dogma do Pecado Original e os Anjos Caídos
Em Gênesis, depois de contar como Deus criou os céus e a terra, os animais, o homem e a mulher, chega a História da Queda do Homem, na qual Eva sucumbiu à tentação. A serpente, que era o animal selvagem mais sagaz que Deus criou foi conversar com a mulher e engodando-a comer do fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. Em seguida, vendo que o fruto da árvore era bom de comer e convidou o marido, e este comeu conscientemente (Gênesis 3:1-6). A participação de Adão durante este episódio, chamado de Tentação, é mínima; talvez porque os homens, normalmente, estão condicionados a seguir regras e são, naturalmente, menos sedentos por conhecimento do que as mulheres.
Adão, em Gn 3:12, diz: “Então disse o homem: A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi”. Adão, além de tentar de eximir-se totalmente da culpa quando comeu o fruto proibido, ainda tentou acusar Deus de lhe dar uma esposa que o fez errar. E em Gn 3:17: “E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de tua mulher, e comeste da árvore que eu te ordenara não comesse: maldita é a terra por tua causa: em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida”, o próprio Deus culpa Adão de ter ouvido a besteira de sua mulher.
A forma como Deus penitencia Adão e Eva por terem desobedecido esta ordem é extremamente punitiva. O castigo de Eva, e de todas as mulheres, foram as dores do parto (e, conseqüentemente, a menstruação), e ela seria submissa ao marido por os meios existentes (Gn 3:16). O castigo do Adão, e seus descendentes, é trabalhar exaustivamente para conseguir sustento e amaldiçoa a terra em que os homens forem arrumar seu sustento, com o intuito de o obterem com o sofrimento (Gn 3:17-18).
Esses castigos são apenas os dois primeiros do primeiro erro cometido pelo primeiro casal, do ponto de vista bíblico. Ao longo do Velho Testamento se percebe um Deus punitivo, exigente, rígido e cheio de regras.
Assim nasceu o Pecado Original! Nasceu de Adão ter ouvido sua esposa Eva. Adão compreendeu, posteriormente, que foi a sedução natural da nudez do corpo de Eva que o fez pecar; ajudada pela arguciosa serpente que estava possuída por Satanás.
A mulher é apontada pela segunda leva de Anjos Caídos que deixaram os céus para terem relações sexuais com as filhas dos homens, que foram abasbacados pela beleza natural de tais mulheres (Gn 6:1-6). Os “filhos de Deus” dos versos 2 e 4 são anjos caídos, que assumiram a aparência da forma humana masculina. Estes anjos coabitaram com mulheres da raça humana (descendentes de Caim ou de Sete) e a descendência resultante foram os Nefilins. Os Nefilins foram gigantes com superioridade física que então se estabeleceram como homens reconhecidos por suas proezas físicas e seu poderio militar. Esta raça de criaturas meio humanas foi exterminada pelo dilúvio, junto com a raça humana em geral, que eram pecadores confessos (versos 6:11, 12). Esta passagem é usada diversas vezes no Novo Testamento, como em 2 Pedro 2:4 e Judas 6, para elucidar o quanto uma mulher pode ser perigosa, sendo que nem os Anjos conseguiram resistir o desejo de ter o seu corpo.
Por vezes, elas são vistas como tendo um poder atrativo hipnótico demoníaco. Se Deus não tivesse criado a mulher e criado, também, o primeiro mandamento de todos “Sede fecundos, multiplicai-vos” (Gn 1:22), ela provavelmente seria eliminada. O trunfo das Escrituras Sagradas, além dos versículos que Deus culpa Adão por ter ouvido Eva, e Adão culpa Deus por ter-lhe dado uma mulher que o inspirou a alimentar a curiosidade, existe também o versículo “Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só: far-lhe-ei uma auxiliadora (grifo meu) que lhe seja idônea” (Gn 2:18). Este auxiliadora não a coloca em nível de igualdade com o homem, Adão, muito menos, quando este deu ouvidos à Eva.
A mulher passou a ser nada mais nada menos do que um contrato a ser negociado entre um comprador e um vendedor (pai e futuro genro/futuro marido), um objeto a ser negociado e com utilidade e dever de procriar. Não tinha direitos legais ou civis, não podia falar sem a permissão do marido e muitas vezes não podia ir ao templo. Não tinha autoridade sacerdotal, não podia ensinar e devia dar sempre exemplo submissão. Por mais que em um ou outro livro se ache algo como “O marido deve amar sua mulher, assim como Jesus amou sua igreja”, não há regras que as favoreçam no Velho Testamento, na Velha Aliança/Lei, como era chamado.
Mas se pararmos um momento para refletir, se Adão e Eva eram o primeiro casal e a humanidade toda descende deles, e tendo como ponto de partida as Escrituras Sagradas, eles teriam cometido incesto para gerar descendentes. Gn 4:17 “E coabitou Caim com sua mulher; ela concebeu e deu à luz a Enoque. Caim edificou uma cidade e lhe chamou Enoque, o nome de seu filho”. A mulher de Caim era uma filha de Adão, pode ter sido uma irmã, sobrinha ou até mesmo sobrinha-neta de Caim; o que era um pecado abominável diante os olhos de Deus, pois tiveram dois filhos primeiramente. E mesmo com filhas, teriam de ter relações sexuais entre si para procriar. Mas se ainda existe quem pense que esse conceito de pecado é válido e coerente, tenho uma pergunta: como o Deus Todo-Poderoso, Jeová, punitivo e castrador, iria permitir um pecado desses? Se Deus condenou Adão a trabalhar pelo seu sustento para prover sua família e Eva a ter dores agonizantes no parto só por terem comigo um fruto proibido, será mesmo que ele teria perdoado o incesto entre Eva e seus filhos somente para criar uma população na Terra? Teria Deus trapaceado suas próprias regras? Está muito mal explicada essa história de Pecado Original. Ora, se Adão e Eva não eram os pais primordiais, não havia Pecado Original, não havendo Pecado Original, não havia necessidade de culpar a mulher pela iniqüidade do mundo. É incoerente amaldiçoar a Mulher pelo Pecado Original e os Anjos Caídos, entre outras coisas, e abrir exceção para o incesto para produzir descendentes.
Em Levítico 18:6-18, Deus instrui diretamente Moisés sobre relações sexuais já que eles estavam no Egito, se dirigindo para a Terra Prometida de Canaã. Deixa extremamente claro que quaisquer relações incestuosas são abominadas por Deus e seus praticantes eliminados do povo de Israel (Lv. 18:29). Cita, novamente, a proibição de intercurso entre parentes em Deuteronômio 22:30, 27:20 e Levítico 20:11, entre outras. Seria um absurdo aceitar a repressão na qual as mulheres bíblicas, com um Deus punitivo, incoerentes, chauvinista, castrador.
A partir daí a mulher foi dominada de tal forma que suas aparições são mínimas e seus feitos são quase patéticos, se comparados com os inúmeros feitos dos grandes homens da Bíblia. Irei pontuar mais para frente, no capítulo “Regras, leis, costumes e cultura para a mulher judaica”, as regras contra a mulher judia (no Velho Testamento), na qual Jesus no Novo Testamento quebra o tabu tratando de igual para igual.

Jesus, e o 11º mandamento: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mc. 12:31)
A primeira pessoa que falou a favor de alguma mulher bíblica, que a colocou no mesmo patamar de um homem, foi Jesus, no Novo Testamento, séculos depois de Adão. Jesus tinha verdadeira e pura adoração pelas mulheres. A forma como as trata, com tanta compaixão e inclusão, é a maior demonstração de admiração já vista em toda a história da mulher judia. Jesus amava as mulheres da mesma forma e intensidade que amava os homens, assim não havia regra que os diferenciasse; ainda mais, porque diante dos olhos de Deus somos todos iguais.
A principal mensagem de Jesus, que é um novo mandamento, é: amar uns aos outros, pois a humanidade é o objeto do seu amor. Jesus, além de pioneiro em uma filosofia de vida que prega o amor acima de tudo, foi um revolucionário e deixa clara sua intenção de romper com a tradição judia e seu sectarismo. Foi um revolucionário nos costumes e tradições judaicas, um revolucionário ao enfrentar o governo romano, mas foi um revolucionário, principalmente, em relação à mulher.
Os evangelhos relatam que Jesus acabou se tornando uma figura política, por ser descendente da Casa de Davi por parte de seu pai José, mas também um líder religioso que exortava os judeus a não se prender à regras que não se adequavam àquela época e à situação. E dizia, também, que o Reino dos Céus estava aqui na Terra e dentro de nós. Ele desafiou repetidamente os ensinamentos e as interpretações que os líderes religiosos judeus faziam das Escrituras. Um exemplo claro disso foi sua defesa das mulheres e sua nivelação com os homens.
Apesar de todo o esforço e sacrifício de Jesus de passar a mensagem de amor ao próximo, de perdão e da não-necessidade de um credo/doutrina e ritual a ser seguido, não há discussão entre filósofos, teólogos e acadêmicos quando se diz que Paulo foi o inventor do cristianismo; e, além de fundador da religião cristã ortodoxa atual, era extremamente rígido com o sexo feminino, provavelmente o primeiro opressor cristão contra as mulheres, e tinha uma opinião igual aos judeus em relação a elas. O desprezo de Paulo quase chega a ser pessoal.
Os Evangelhos Canônicos e os Atos dos Apóstolos não deixam claro se Jesus desejava apenas reformas radicais no judaísmo ou que sua mensagem fosse espalhada pelo mundo para os gentios (não-judeus). Em algumas ocasiões, como no caso da mulher Cananéia Mateus 15:22-28: “E eis que uma mulher Cananéia, que viera daquelas regiões, clamava: Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de mim! Minha filha está horrivelmente endemoninhada. Ele, porém, não lhe respondeu palavra. E os seus discípulos, aproximando-se, rogaram-lhe: Despende-a, pois vem clamando atrás de nós. Mas Jesus respondeu: Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel. Ela, porém, veio e o adorou, dizendo: Senhor, socorre-me! Então, ele, respondendo, disse: Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-los aos cachorrinhos. Ela, contudo, replicou: Sim, Senhor, porém os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos. Então lhe disse Jesus: Ó mulher, grande é a tua fé! Faça-se contigo como queres. E desde aquele momento sua filha ficou sã”. Mas em Atos dos Apóstolos quando Jesus aparece para Ananias e para Paulo, lhes ordena para pregar sua mensagem para os gentios. Atos 9:15, Jesus ordena a Ananias que vá iniciar Paulo nos ensinamentos de Jesus para que ele vá pregar sua mensagem pelo território gentio: “Mas o Senhor (Jesus) lhe disse: Vai, porque este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel”.

Paulo, uma mini-biografia
Em oposição direta ao crescente movimento judaico-cristão estava Saulo de Tarso, um hebreu ortodoxo devoto, que era tutor do filho do rei Herodes Agripa. Saulo não tinha tempo para a visão helenista liberal de Jesus; ele acreditava que os judeus eram superiores a todos os gentios, e considerada Tiago o verdadeiro Messias, nasceu no marco zero de nossa era e Jesus nasceu 7 anos antes.
O ano de 37 d.C. trouxe mudanças administrativas em todo o Império Romano, e especialmente na Palestina. O imperador Tibério tinha falecido, e o novo imperador, Caio Calígula, demitiu Pôncio Pilatos para nomear seu homem, Félix, governador da Judéia. Também removidos de suas posições foram José Caifás, o sumo sacerdote, e Simão Zelote. Teófilo, irmão de Jônatas Anás, assumiu o posto de alto sacerdote, e uma administração inteiramente nova estava em andamento, mais dependente de Roma que antes.
Em 40 d.C., em Damasco, onde os líderes judeus participavam de uma conferência para discutir sua posição em relação a Roma. Assim como Jesus sabia que os judeus jamais poderiam derrotar Roma enquanto estivessem divididos entre si, Saulo considerava os seguidores de Jesus os responsáveis por dividir a nação judaica. Ele também se dirigiu a Damasco para defender seu caso.
Antes que Saulo tivesse a chance de se fazer presente à conferência, Jesus o deteve nas instalações monásticas. Quando Saulo chegou ao meio-dia, o sol estava a pique bem sobre a clarabóia do templo, e lá se encontrava Jesus, pronto para enfrentar o acusador. Depois, tendo ouvido o sermão de Jesus, Saulo percebeu que deixara cegar por dogmas sectários (At. 9:8).
Subseqüentemente, Jesus instruiu o discípulo Ananias para que fosse ensinar a Saulo. Depois das devidas instruções, Saulo foi iniciado para que também pudesse ver claramente o caminho da salvação, através do perdão e amor: “Imediatamente lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e tornou a ver. A seguir, levantou-se e foi batizado” (At. 9:18).
Dessa experiência, Saulo emergiu como um helenista-judeu totalmente convertido. Imediatamente, ele começou a pregar em Damasco, mas havia um problema, pois as pessoas não acreditavam que o homem que viera tão inflamado para desafiar o Messias agora o estivesse promovendo. Os judeus estavam confusos, desconfiados, e logo ficaram irados a ponto de ameaçar a vida de Saulo; os discípulos tinham de tirá-lo da cidade. No entanto, em 43 d.C., Saulo era um fervoroso (quase fanático) evangelista, bem conhecido sob seu novo nome, Paulo, para ser associado popularmente a Pedro. Sua conversão fora traumática, sua mudança de opinião tão avassaladora, que Paulo acabou tirando a atenção de Deus e voltando para Jesus, como se fosse uma pessoa separada de Deus, idolatrando-o de tal forma.
As viagens missionárias de Paulo o levaram até Anatólia (Ásia Menor) e às áreas do leste do mediterrâneo onde se falava o grego. Mas sua versão drasticamente revista da Boa Nova era que um surpreendente Salvador logo estabeleceria um regime mundial de perfeita justiça, contando com o apoio de escritos ambíguos do Antigo Testamento, como, por exemplo, do livro de Daniel 7:13-14. Quando foram escritos, esses textos nada tinham a ver com Jesus, mas eram suficientemente esclarecedores para Paulo, dando-lhe a inspiração necessária para a sua inflamada invectiva. Em sua empolgação, ele proclamava a Ira do Senhor com todo o zelo de um profeta do Antigo Testamento, fazendo afirmações ultrajantes que lhe garantiram uma atenção sem precedentes. Paulo se desviara para um reino indecifrável e criou uma doutrina judaico-cristã.
Em seu entusiasmo desenfreado, ele inventou um mito inexplicável e desatinou a fazer profecias que jamais se cumpriram. Apesar de tudo isso, é de Paulo a maior parte dos Livros do Novo Testamento, além dos evangelhos. Tamanho era o poder do ensinamento de Paulo que o Jesus missionário dos evangelhos se transformou num aspecto de Deus Todo-Poderoso, e Jesus, o Cristo, perdeu-se totalmente na história religiosa.
A rota de sucesso de Paulo, diante de todas as dificuldades, devia apresentar Jesus de maneira que transcendesse todos os ídolos paranormais ou com poderes de qualquer tipo. Mas, ao fazer isso, ele criou uma imagem de Jesus tão distante da realidade que a sociedade judaica o considerava uma fraude. Apesar de tudo isso, porém, foi o Jesus inventado por Paulo que mais tarde se tornou o Jesus do cristianismo ortodoxo.
A opinião de Paulo sobre as mulheres era nada lisonjeira e ele se opunha veemente ao envolvimento delas em questões de religião. Não somente em religião, mas também em intimidade, e apenas aconselhava o casamento àqueles que não conseguissem conter o fogo de suas paixões. Paulo mantinha a mulher responsável pelo homem não ser capaz estar cem por cento em comunhão com Deus.
Paulo não teve nenhum tipo de transformação de caráter, pois seu sectarismo continuou. Seu sectarismo judaico foi transferido para a doutrina cristã que estava criando com suas pregações, afastando cada vez mais a atenção dos ouvintes da mensagem de amor de Jesus para a sua pessoa com palavras como “Façam como eu”. Paulo anulou a mensagem e o mandamento de Jesus o transformando em Deus encarnado, e a ressurreição espiritual em ressurreição física. A mensagem estava transforma, e o dogma formado. A religião estava sendo gestada. “

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